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Editorial

Em breve.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Lembrai, lembrai o cinco de novembro

Cartaz japonês do filme "V de Vingança"


"Remember, remember, the fifth of November
The gunpowder, treason and plot;
I know of no reason, why the gunpowder treason
Should ever be forgot."
("Lembrai, lembrai, o cinco de novembro

A pólvora, a traição e o ardil;

por isso não vejo porque esquecer;

uma traição de pólvora tão vil")


O século XVII era uma época de tensões religiosas na Europa. Os católicos ingleses estavam extremamente irritados pelo fato do rei Jaime I, da Inglaterra (também chamado de Jaime VI, da Escócia), não conceder a eles os mesmos direitos dos protestantes. Um grupo de católicos, liderados por Robert Catesby, decidiu, então, eliminar não só o rei como também aqueles que o apoiavam no Parlamento britânico. Acreditavam que, com isso, iniciariam um levante que faria o catolicismo ser novamente a religião predominante no país. O plano era explodir o local com 36 barris de pólvora durante uma sessão parlamentar, na qual o monarca estaria presente, no dia cinco de novembro de 1605. O responsável pela guarda da munição e sua detonação era um homem chamado Guy Fawkes, um especialista em explosivos. Porém, o plano foi descoberto e Fawkes foi capturado, interrogado, torturado e, posteriormente, condenado à morte por enforcamento e, após a execução, seu corpo foi esquartejado.
Esse é um breve resumo da conjura que ficou conhecida como A Conspiração da Pólvora (The Gunpowder Plot). Desde então, em todo dia cinco de novembro, é celebrado na Grã-Bretanha e em países da comunidade britânica, um feriado chamado de a Noite de Guy Fawkes, (Guy Fawkes Night), ou a Noite da Fogueira (Bonfire Night). Esse feriado foi instituído, a princípio, como uma festividade pela sobrevivência do rei, mas, com o passar do tempo, começaram a soltar de fogos de artifício e a acender grandes fogueiras nas quais são queimadas máscaras ou bonecos a representar Guy Fawkes em uma cerimônia de humilhação do conspirador semelhante à “malhação do Judas” que ocorre no Brasil durante os festejos da Semana Santa.
De alguns anos para cá, a imagem do cinco de novembro novamente mudou. De conspirador fracassado e humilhado, Fawkes passou a ser visto não só como “o único homem a entrar no Parlamento com intenções honestas” (segundo um dito popular local), mas também como um símbolo de rebeldia e de anarquia. Essa mudança deve-se, em grande parte à graphic novel V for Vendetta (V de Vingança, nos países de língua portuguesa), publicada originalmente em 1982, com texto do inglês Alan Moore e desenhos do também inglês David Lloyd, na qual o personagem principal, um anarquista chamado apenas V, usa uma máscara inspirada nas feições de Guy Fawkes, luta e organiza uma revolução contra um estado fascista totalitário que estabeleceu-se na Inglaterra. A obra foi um sucesso de público e crítica e foi adaptada para o cinema com igual êxito. A máscara de Fawkes popularizou-se e tornou-se um ícone de manifestações e protestos.


Representação artística de Guy Fawkes

Entretanto, quem “turbinou” esse “new look” do cinco de novembro foi o grupo de hacktivismo chamado Anonymous. Tendo justamente o anonimato como forma de ação e divulgação de seus ideais (liberdade política e de expressão além de diversas causas sociais), o grupo “adotou” a máscara de Fawkes como seu “rosto” e organizou diversas manifestações ao redor do mundo por meio da internet e de seus diversos canais disponíveis (YouTube, Facebook, Twitter, etc.). Sua presença e influência puderam ser vistas e sentidas em manifestações tais como a Primavera Árabe e o Occupy Wall Street e em operações como a Operação DarkNet, na qual derrubaram mais de 40 sites de pornografia infantil e publicaram mais de 1500 nomes de pessoas que frequentavam essas páginas. No Brasil, apoiaram e participaram das manifestações ocorridas no mês de junho de 2013 e vem organizando outras tantas desde então como, por exemplo, a Operação Sete de Setembro, ocorrida no dia da Independência. E as máscaras de Fawkes cobriam o rosto de milhares de manifestantes.
Nos últimos anos, o grupo organiza uma manifestação global em todo o dia cinco de novembro, que é tida agora como uma data mundial de resistência e rebelião contra a corrupção de governos, tirania e injustiças sociais. Essa manifestação ganha mais e mais adeptos cada vez que é realizada e a máscara de Guy Fawkes, claro, não pode faltar nesse dia.
O fato é que o cinco de novembro e Guy Fawkes sintetizam o descontentamento geral que vem a ocorrer em todo o mundo nestes tempos sombrios de crise financeira internacional, espionagem e violência. As pessoas estão simplesmente cansadas do cotidiano que são obrigadas a encarar, seja viajar em um ônibus lotado ou da falta de liberdade e democracia ou a praga da corrupção política e começam a reagir contra esta situação opressiva e a usar os meios que tem em mãos que vão desde as manifestações em locais públicos até a internet, um meio poderoso de divulgação e organização, que, aliás, foi subestimada por muitos políticos como, por exemplo, o ex-presidente brasileiro Lula, que não acreditava na força da rede mundial de computadores – achava a televisão mais eficiente - até que as chamadas Revolta dos 20 Centavos e Revolta do Vinagre ocorreram e o fizeram “quebrar a cara”.
Os governos internacionais sentiram o golpe. Tentaram e ainda tentam conter todo esse movimento usando a mídia conservadora (governamental e/ou particular) para criticar e desacreditar os manifestantes que, de uma maneira geral, tem o apoio da população. O modo favorito é usar os Black Blocs – para muitos o “lado negro da força” do movimento – e seus polêmicos e contestados métodos violentos de protesto, os quais destroem patrimônios públicos e particulares, para criminalizar os manifestantes chamando-os de “baderneiros” e “vândalos”. O outro modo é usar uma tática do terror utilizando as forças de segurança civis (polícia) ou militares (forças armadas). Todos ainda lembram-se da violência policial ocorridas nas manifestações brasileiras, que incluía o uso de bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, contra os manifestantes e que também atingiu jornalistas que cobriam o evento. Em desespero, chegaram a proibir o uso de máscaras em manifestações – especialmente de nosso velho amigo Guy Fawkes...

Apesar dessa rude e dura reação por parte dos detentores do poder, as manifestações aumentam em um processo irreversível e o cinco de novembro é, cada vez mais, uma data para lembrar não de um atentado fracassado, mas de uma revolta contra um estado de coisas que não pode-se mais suportar e do desejo de mudança de situações intoleráveis por meio da união de pessoas de todas as raças, cores, credo e orientação sexual. Uma data que ultrapassou todas as fronteiras e veio para ficar. Por tudo isso, lembrai e lembrai do cinco de novembro, com ou sem máscara de Guy Fawkes.

Vídeo do grupo Anonymous com chamada para o dia cinco de novembro de 2013:

Publicado também nos sites do Centro de Mídia Independente (CMI) em 05/11/2013; LinkedIn, em 05/11/2015; e Outras Palavras, em 08/11/2015. 

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